Maria não seria capaz de dizer o que estava sentindo. Os sentimentos misturavam-se, confusos, em seu peito. Sabia não ser tristeza, mas não conseguia definir.
Sorriu ao pensar que, pelo menos, sabia o que "não" era. Já havia dado um passo em frente.
Movimentou-se, impaciente, em sua cadeira. Algo no ar... Algo que a incomodava. E começou a jogar com as armas de sua profissão (abandonada). Jogou palavras e fatos ao ar... em busca da resposta.
Neste Domingo o Horário de Verão estava começando. Maria não gostava deste horário. Eis que lembrou da noite anterior. Quando deitara, adiantara o relógio em uma hora. E, no mesmo instante, pensou:
-"Começou o tempo que eu não gosto".
Não gosto.... isto um cristão não deve dizer. Pois todos os dias são graças e bençãos de Deus. E a cada dia, mais graças, mais bençãos, são derramadas na nossa vida. Mas o verão, com seu calor insuportável, mosquitos, cansaço constante devido ao mal estar que o calor deixa no corpo... tudo isto a incomodava.
Neste Domingo estava sem poder trabalhar. Faltava material. E ela dedicou-se ao estudo. Alguns a deixaram triste, pois não conseguiu estudar- dúvidas e problemas com os programas que não sabia como solucionar. Entregou-se ao desenho e animação - desta forma ocuparía seu tempo e aprendería.
Muitos fatos contribuiram para o bem-estar de Maria na semana que havia passado. No entanto, o próprio bem-estar lhe dava a incômoda sensação de que estava, agora, vazia. Antes o sentimento lhe acompanhava. Mas,exatamente por isto, sem ele nada estava preenchendo o seu coração. Era uma situação "sui generis". Não tinha objeto para direcionar seu pensamento.
Lembrou-se, também, de amigos que estavam se aproximando. Amigos novos, amigos de algum tempo. Lembrou-se de que ganhara um irmão virtual. Lembrou-se do dia lá fora, com sol e céu azul. Lembrou-se de que estava sentada na frente do PC, sozinha, a escutar música. E jogou mais palavras:
Dúvida, anseio, solidão, retração, ressentimento, falsidade, saudade, aversão, bula, almoxarifado, sentimento, musicas, hortências, flores, relógio de flores, avenida, carros, estradas, jumento, autêntica juventude, horror, acidente, enxofre, ramada, sujeira, vassoura, beijo, casal, unidade, carícia,dança, dança com lobos, filme, televisão, reportagem, verídico, cuidado, porta, sufoco, cansaço, serventia, operação, viagem, situação cômoda, angústia, autenticidade, confirmação, autoridade, camaleão, suavidade, sentimentalismo exagerado, efusão, efusão do E.Santo. Conversão, arrependimento, reparação, eternidade, felicidade, amor.
Restava, agora, juntar as palavras e tentar decifrá-las. Nada incômodo. Pois estava, realmente, sem ter o que fazer.
Não sabia exatamente o porquê. Mas o próprio fato de escrever as palavras, e relê-las, havia aliviado seu peito.
Sentiu sono. Há pouco acabara de almoçar. E, como não podia deixar de ser, a moleza se instalava no seu corpo após o almoço. Não era consigo apenas. Todos sentiam. Nem sempre podiamos descansar como seria conveniente. Mas, hoje, Maria podia.
Saiu da frente do monitor e do teclado, sentindo-se calma e tranquila. O sono a embalava. A música suave dormitava com ela. E, nas mãos que escreveram, a cura para um estado momentâneo de insatisfação.
Todo seu ser se direcionava para que fechasse os olhos e se entregasse ao sono reparador. E Maria não lutaría contra isto.
by Miriam, antes de sair para descansar.